segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Enchentes - Culpa da natureza?

Chove forte em São Paulo. Sinal de atenção e drama iminente para milhões de pessoas, submetidas ao descaso não de uma natureza feroz e implacável, mas do modo como, barbaramente, são praticados a política e o poder.

Há um esforço enorme, de parte do governo paulista (nos níveis municipal e estadual), e de uma parte dos empresários de vários lugares, para a criação da cidade que temos. Uma metrópole toda fragmentada, ultra-densificada, produto da especulação imobiliária, impermeabilizada até o mínimo recorte de seu território.

A prefeitura paulistana é bastante atuante, no que diz respeito aos estímulos à densificação de uso e ocupação do território municipal, e ausente no que diz respeito à manutenção dos sistemas de drenagem, e  monitoramento dos usos do território da cidade. O descaso com o monitoramento dos cursos d´água, acelerando o assoreamento de seus leitos, e diminuindo a capacidade de transporte de água, também tem agravado o problema das enchentes.

O planejamento e zoneamento do território da cidade, com as designações das atividades e construções que podem ser praticadas em cada parte da mesma, também são atribuições dos governos. E a falta de planejamento, ou um planejamento equivocado, produto de suas omissões e irresponsabilidades!

Nas ruas mais centrais, parece haver grande conivência do poder público local com uma gama enorme de comerciantes que não cuidam dos restos de seu negócio, deixados, indiscriminadamente, nas calçadas e sarjetas. Depois que baixam as portas, e colocam o lixo nas ruas, ocorre uma disputa entre moradores de rua e catadores pelos materiáveis recicláveis. O que não pode ser reaproveitado para vender, é deixado espalhado no chão. Chegada a primeira chuva, todo esse material é carregado para as galerias de águas pluviais já danificadas.







A localização das principais artérias do sistema rodoviário paulistano também contribui para a ocorrência frequente de inundações. Por conta de um planejamento equivocado do passado, as principais ruas e avenidas da cidade margeiam rios e córregos, impermeabilizando e modificando o curso dos canais, ocupando áreas antes inundáveis das várzeas dos rios e seus afluentes.
O processo de verticalização no entorno de dois dos maiores sistemas rodoviários e fluviais da cidade (Pinheiros e Tietê) é brutal. Constroem-se prédios a uma velocidade alucinante, o que irá, em futuro bastante próximo, agravar ainda mais o problema.

As inundações, interrompendo o tràfego de veículos e pessoas, martirizam milhões de indivíduos que se deslocam das periferias paulistanas, e dos 39 municípios da Região Metropolitana de São Paulo-RMSP para as regiões centrais, onde concentram-se, ainda, a maior parte dos serviços e empregos. E este martírio tem se tornado cada vez mais frequente.

É preciso maior conhecimento pela sociedade das reais causas do problema, e compromisso do poder público não, somente, com os especuladores imobiliários, mas com a totalidade das pessoas nos espaços da cidade. Está mais do que na hora dos políticos e outros agentes sociais pararem de culpar a natureza pela sua própria omissão, e passarem a cuidar mais e melhor do território para todos.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Os Professores-Burocratas

Quando terminamos a graduação e ingressamos na pós muitas mudanças acontecem, na lida com aquele tipo de universidade que pensávamos que conhecíamos. As relações entre os colegas (de corredores, nos laboratórios), o contato com os professores, a própria lida com o trabalho intelectual - tudo se vê transformado nesta nova etapa. No começo, o sentimento de solidão é bastante forte, já que não há, no cotidiano, a convivência direta com aqueles movimentos de massa, como costumava ocorrer no período anterior de nossa formação.

Parece haver um peso maior da estrutura burocrática da universidade em nossas vidas, bem como as consequências das ações pouco inteligentes dos professores burocratas parecem ser mais graves - e na universidade eles pululam aos montes! Para se conseguir uma bolsa, para viabilizar um trabalho de campo, na obtenção de um documento percebemos que boa parte de tudo aquilo que aprendemos, passa ao longe do senso de humanidade desses espécimes.

Hoje, vemos professores que mal acabaram de ser aprovados nos concursos universitários, já disputando cargos, deixando de lado, provavelmente, momentos preciosos de estudo e dedicação à vida intelectual, para saciar sua sede pelo pequeno poder. É lamentável pois, "o grande paquiderme", como nomeou a estrutura burocrática universitária, no passado, o general francês de Gaulle, irá engoli-los. E mastiga-los vagarosamente. E, quando se derem conta, verão que continuam os mesmos de cinco, 10, 20 anos antes - o que é uma tragédia para um intelectual - continuar no passado, enquanto o mundo se transforma velozmente!

Na universidade deveria prevalecer o cuidado com a criação de duas situações - a formação de alunos competentes, e a produção de saber sério, e compromissado com as melhorias das condições de vida e a soberania do país. O resto é acessório, portanto, poderia ser descartado.


Percebemos, cada vez mais, que um dos nós para o Brasil continuar se desenvolvendo, e aprofundar suas transformações, passa pelo conhecimento e pela educação. E nisso, os buro-professores pouco contribuem para modificar o quadro lastimável no qual se encontra a educação brasileira, em todos os níveis.

Há aqueles que, ainda, de forma bastante sagaz conseguem representar, de modo quase caricato, parte das situações existentes na pós-graduação. Humor e inteligência são elementos que combinam muito bem, como podemos ver em parte do conteúdo do seguinte site: http://www.posgraduando.com/

Na universidade, o pensamento sistêmico e as relações de causa e efeito parecem existir apenas nos livros, já que no cotidiano, os processos parecem ganhar vida própria - sempre em prejuízo dos alunos, em cada departamento ou setor. E a fragmentação da instituição aumenta desmesuradamente, dificultando a vida dos estudantes para as questões mais banais.

Li recentemente um texto do professor Milton Santos que tratava de questões como a sede pelo poder e a adesão a modismos na universidade, e o prejuízo a suas funções primeiras - o ensino e a pesquisa de qualidade. Ele também trata deste tipo de professor ao qual faço referência neste post.

Coloco o texto na íntegra (a seguir) para que todos possam aprecia-lo e, dessa reflexão, tirar suas próprias conclusões:



sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Globo Animal e a Desinformação do Mundo (parte 2)

É impressionante o esforço da Rede Globo em alimentar a alienação dos espectadores. Considerando-se que esta TV, como todas as outras, possui  para funcionar uma concessão pública, deveria cuidar melhor de sua programação, respeitando os movimentos da história contemporânea, e a inteligência dos brasileiros.

Com todo arsenal que possuem (equipes técnicas, jornalísticas) e uma tecnologia de transmissão bastante potente, abrangente, é lamentável a escolha dos temas de alguns dos programas "jornalísticos" da emissora. Falo, principalmente, daquele que costumo denominar de "globo animal", que vai desse arremedo de jornalismo de terceira que ocupa a grade da emissora às sextas a noite - cujo nome oficial é "Globo Reporter", até o Fantástico.

Assisti a uma parte do programa desta última sexta-feira (25/02/2011) e a programação fora a seguinte, em uns 15 minutos que aguentei ficar na frente da TV: uma descrição que ia das tempestades do Pacífico, passando pelo Havaí, entrando na escala do mundo quase invisível dos insetos (ampliado com lentes potentes), chegando até o "vôo da morte" dos filhotes de albatrozes que, por infeliz coincidência do destino (deles), tentam aprender a voar em águas infestadas de tubarões, não possuindo o direito de, para conquistar a tão desejada habilidade de voar, errar mais de uma vez.

Já houve quem tivera a genial ideia de fazer um documentário para criticar a toda poderosa senhora global (muitos já devem ter ouvido falar no já clássico "Muito Além do Cidadão Kane), sofrendo pesadas censuras, diretas ou indiretas, na época. É preciso que surjam outras vozes como a do britânico Simon Hartog, diretor do famoso documentário, para serem as vozes dissonantes e críticas às imbecilidades televisivas deste início de século XXI. (assista o vídeo aqui: http://www.youtube.com/watch?v=JA9bPyd1RKQ)

A crítica que fazemos à parte da programação televisiva soma-se a muitas outras que analisam o esforço da grande mídia em utilizar os sistemas de informação de que dispõem, neste atual período histórico também chamado de informacional, não para esclarecer, mas para dissimular e confundir, para enganar, para distrair.

(para textos inteligentes e críticos sobre a mídia, visitem: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/

Há todo um processo de mudanças e conflitos em curso em parte da África, e no Oriente Médio, e isso não entra na programação global. Quando muito, aborda-se o tema, em outros programas da emissora, de forma sempre rasa, superficial, valendo-se de inúmeros preconceitos, chavões, discursos prontos - e vazios. E bem que poderiam pesquisar, estudar, produzir e esclarecer, através de informações mais úteis, do que as mostras de amor do mundo animal.



O que impede de colocarem em uso todo poder de produção de informação que tem para produzir algo mais interessante, e útil? Por quê não convidam os grandes pensadores - e aqui não servem os Demétrios da vida...para tratar de temas que dizem respeito a questões em curso para parcela significativa da humanidade? A resposta é simples: porquê é necessário manter o povo ignorante, ou alimenta-lo com os ódios e preconceitos que interessam a determinadas classes sociais, não à uma revolução das consciências.

É claro que não dá para apontar, apenas, que a péssima qualidade da TV é o elemento principal que explica o nível de alienação e desconhecimento do nosso povo, em relação a outras partes do mundo. Junta-se o cardápio indigesto da TV tupiniquim, mais o péssimo nível de nossa educação nacional, aí sim, é o retrato da tragédia anunciada. Mas, aqui já entro em assunto para outro post.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Downloads Geográficos

Uma das grandes possibilidades de uso das novas tecnologias da comunicação é, a partir das solidariedades entre os indivíduos, poderem difundir o conhecimento. A troca de materiais para estudo favorece, enormemente, o aprendizado e a formação daqueles que podem ter acesso a internet.

A partir desses princípios, farei alguns posts para disponibilizar, de maneira concentrada, parte do material que já encontrei na internet.

Desde já, agradeço aqueles que, mesmo de forma anônima, dedicam parte de seu tempo, e de seu trabalho, para se colocarem a favor do outro, demonstrando grande solidariedade e espírito de colaboração, em tempos de individualismo exacerbado.


1. Por Uma Outra Globalização (Milton Santos)
http://www.4shared.com/document/XJ1koO5c/Por_uma_outra_Globalizao_Milto.htm

2. Natureza do Espaço (Milton Santos)
http://www.4shared.com/document/k2fZE3d3/SANTOS_Milton_A_Natureza_do_Es.htm

3. Metamorfoses do Espaço Habitado (Milton Santos)
http://www.4shared.com/document/2rUB4fMD/Metamorfose_Do_Espao_Habitado_.htm

4. Técnica, Espaço e Tempo (Milton Santos)
http://www.4shared.com/document/-z4kCUIM/tecnica_espao_tempo_milton_san.htm

5. Pobreza Urbana (Milton Santos)
http://www.4shared.com/file/-DnHs4ge/Milton_Santos_-_Pobreza_Urbana.htm

6. Formação Socioespacial como Teoria e como Método (Milton Santos)
http://www.4shared.com/document/CkI8IN23/milton_santos_Sociedade_e_Espa.htm

7. O Brasil - Território e Sociedade no Início do Século XXI (Milton Santos e Maria Laura Silveira)
http://www.4shared.com/file/G4BwhCT-/Milton_Santos_e_Maria_Laura_Si.htm

8. Documentário Milton Santos
http://www.4shared.com/file/aGaAo1os/Documentario__Milton_Santos_po.htm  (Parte 1)
http://www.4shared.com/file/aGngH65M/Documentario__Milton_Santos_po.htm (Parte 2)

9. Encontro com Milton Santos ou o Mundo Global visto do lado de cá (Documentário de Silvio Tendler)
http://www.4shared.com/file/wh7npghI/Encontro_com_Milton_Santos_ou_.htm

10. Há mesmo um espaço virtual? (Milton Santos)
http://www.4shared.com/document/wFNkIEUN/H_mesmo_um_espao_virtual_-_Mil.htm

11. Por uma outra globalização (Milton Santos)
http://www.4shared.com/document/UBYvmVKT/Por_uma_outra_globalizao_Milto.htm

12. Espaço e Método - em espanol
http://www.4shared.com/document/3S2twYaL/Espacio_y_Mtodo__Alguns_Captul.htm

13. A globalização da comunicação (Armand Mattelard)
http://www.4shared.com/document/IJEM-Vf-/Milton_Santos_-_A_Globalizao_d.htm

14. Geografia da Fome (Josué de Castro)
http://www.4shared.com/document/kC2PtKee/Geografia_da_Fome_-_Josu_de_Ca.htm

15. Geografia, Pequena História Crítica (Antonio Carlos Robert de Moraes)
http://www.4shared.com/document/q2OrXZ67/Geografia_Pequena_historia_cri.htm

16. A Geografia está em crise - viva a Geografia! (Carlos Walter Porto Gonçalces)
http://www.4shared.com/document/kTIXHN73/Carlos_Walter_Porto_Gonalves_-.htm

17. Geografia Teoria e Crítica (Ruy Moreira)
http://www.4shared.com/document/Vw9bdM5F/Ruy_Moreira_-_Geografia_teoria.htm

18. A Geografia - Isto serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra (Yves Lacoste)
http://www.4shared.com/document/bsn35Vq-/Geografia_YvesLacoste_.htm

19. Des caracteres distinctifs de la Geographie (Paul Vidal de La Blache)
http://www.4shared.com/document/LYfF_Bx-/Paul_Vidal_de_la_Blache_-_Des_.htm

20. La Geografia secreta de America (Jacques de Mahieu)
http://www.4shared.com/document/enc28-HQ/la_geografia_secreta_de_americ.htm

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Alimentando o humano do homem, ou um pequeno projeto da felicidade humana



        Calcula-se que nos últimos 40 anos houve mais invenções do que nos 50 mil precedentes. O que essas mudanças significam para a vida humana na Terra? 
Plantação no deserto peruano
  
 O brutal e acelerado desenvolvimento técnico - afinal, vivemos tempos de aceleração contemporânea - criou as condições para o conhecimento da totalidade do Planeta. Entretanto, esse conhecimento, concentrado nas mãos de poucos agentes (alguns Estados Nacionais e as Empresas Transnacionais) tem subjugado povos e lugares. Também tem direcionado as forças humanas como um todo, não em busca da felicidade de direito, mas à extração de uma mais valia que se pretende universal. Esta, sim, causa de muito sofrimento, miséria, guerras, para parcela significativa da humanidade.  Ela é um dos principais motores daquilo que, a partir dos anos 1990, convencionou-se a chamar de globalização.

A dominação da natureza, em busca de cada vez maior acumulação, talvez seja a grande marca da presença do homem no mundo atual – o domínio quase absoluto, por meio da técnica, dos continentes, dos mares, da atmosfera. Mas, também, o domínio das mentes, a produção e o controle dos desejos, o desprezo do humano no homem, como diria Jose Ortega y Gasset.

Hoje é possível voar com máquinas incríveis e enormes; plantar nos desertos; viajar por todos os continentes, oceanos e lugares – o ecúmeno confunde-se com o próprio Planeta, como diria Pierre George. Há enorme prolongamento da vida, e a invenção de máquinas que modificam sobremaneira as capacidades inatas do homem. Entretanto, parece não ter sido incluído nesse motor do desenvolvimento o projeto da felicidade humana.


Nunca existiram condições tão propícias à garantia do conforto e da sobrevivência das pessoas, mas a humanidade nunca se viu tão desigual. As técnicas, a serviço de uma Política distorcida, não servem ao homem como humanidade – aquele que vem ao mundo como portador de um projeto de felicidade. Elas, as técnicas, guiadas por uma política egoísta, acabam por servir apenas a alguns poucos privilegiados, aqueles do topo da pirâmide social.

O mundo é outro, a política também deve ser renovada. Hoje, cada vez mais, a conexão entre os diferentes, a circulação da informação, a difusão da ideia de bem estar, são fatores que trazem consciência do lugar que cada qual ocupa no mundo. Aqui reside a grande força revolucionária, capaz de promover transformação social, de trazer os tão desejados ares de mudança, pois todos querem ocupar não um lugar, apenas, mas o melhor lugar – aquele que lhe é de direito.


Cabe a nós discutir o mundo que queremos,  aquele do futuro que chega,  e qual projeto de civilização devemos construir. E, assim, acelerar o curso de uma nova história – agora com mais justiça, liberdade e felicidade para todos os habitantes da Terra!


      

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Geografias do Oriente Médio e Desinformação do Mundo

Como geógrafo, me senti na obrigação de pensar no que ocorre no Oriente Médio. Não que os geógrafos sejam obrigados a conhecer aquela região, ou a pensa-la, em todas as suas contradições. Pelo contrário, os cursos de geografia, de modo geral, tratam, quando tratam, de modo bastante superficial, e insuficiente, questões complexas do mundo contemporâneo. Daí, pobre é a formação dos alunos desses cursos para opinarem, de forma consistente, coerente e crítica, sobre quaisquer temas que resultem desta complexidade contemporânea em que vivemos. Não falo que nada dizem. Excluí os discursos militantes, apaixonados e, por isso mesmo, muitas vezes, cegos e vazios.

Mas, voltemos ao tema deste post. Parece que alguns elementos-chave estão presentes nas questões sobre o Oriente Médio. Pela primeira vez, em muito tempo, não vemos a grande mídia noticiar sobre Irã, Israel ou o Líbano isoladamente, países mais frequentes nas pautas midiáticas. Estão sob os holofotes agora outros territórios dos quais pouco se conhece, com alguma profundidade. Bahrein? Líbia? Tunísia? O que sabemos, nós, os tupinquins, desses lugares e povos seculares? Além é claro daquela bagagem bem senso-comum: petróleo, guerras, conflitos religiosos.

É claro que nossa desinformação não é culpa, apenas, dos cursos ruins de geografia que frequentamos. Ou dos totalitarismos na lida com a informação, bastante característicos da mídia nacional e estrangeira que fazem a nossa cabeça.




Me recordo de uma passagem da obra de Sartre que nos diz que "nós também somos responsáveis por aquilo que o mundo fez de nós". Se somos bárbaros, incultos, ignorantes em relação ao Oriente Médio, e toda complexidade que lá reina, também temos nossa parcela nisso. É preciso se informar, mais e melhor, do que, apenas, pela televisão, para formular uma hipótese que seja, ou ter uma opinião e pensamento mais profundos, sobre uma determinada formação territorial. É preciso, também, aprender a questionar os discursos hegemônicos.

Apenas um exemplo do modo como a mídia possui pouco rigor, alterando o discurso ao sabor de interesses obscuros: é interessante como o discurso sobre um determinado chefe de Estado varia se o "líder" possui interesses próximos, por exemplo, daqueles dos EUA. Mubarak, por muito tempo, fora chamado de "presidente", ao passo que outras nações não tão simpáticas assim aos estadunidenses, são tratadas, desde sempre, como paisinhos controlados pelas mãos de ferro de tiranos e ditadores. Não que esses "líderes" tenham práticas semelhantes àquelas dos líderes das democracias de mercado ocidentais, não é isso. Mas, é preciso cautela ao tratar de realidades distantes, que desconhecemos com espantosa profundidade, para não alimentarmos outros preconceitos, além daqueles difundidos pela grande mídia.

Irei me debruçar mais e melhor sobre essas questões que envolvem tanto a guerra da informação, quanto às mudanças que, sabemos, têm ocorrido em diversos países localizados desde o Norte da África até o Oriente Médio.

Um primeiro esforço de método que fiz envolveu buscar categorias de análise para auxiliar a construção de um pensamento mais profundo. Alguns eixos que podem ser explorados: a formação dos territórios nacionais (formações socioespaciais); os motores e interesses que provocam e alimentam as guerras e, por fim, os fermentos das revoluções surgidos de um mundo profundamente desigual, além dos interesses das agências de notícias na divulgação de informações a partir de um determinado ponto de vista particular. 

Tenho buscado textos de alguns pensadores de maior respeito para me ajudarem nesta tarefa. Portanto, logo mais, retornarei a este tema. Aliás, as questões da Geopolítica mundial, principalmente aquelas do Oriente Médio, foram as primeiras a me motivarem a ingressar em um curso de graduação em Geografia. Um dia, talvez, eu me anime a contar aqui esta história...

Para concluir, gostaria de deixar de presente para aqueles que tiveram disciplina e paciência para ler até aqui, uma preciosidade que encontrei - o genial Eça de Queiroz tratando da inevitabilidade das revoluções. Lá vai:

A Inevitabilidade das Revoluções
As revoluções não são factos que se aplaudam ou que se condenem. Havia nisso o mesmo absurdo que em aplaudir ou condenar as evoluções do Sol. São factos fatais. Têm de vir. De cada vez que vêm é sinal de que o homem vai alcançar mais uma liberdade, mais um direito, mais uma felicidade. Decerto que os horrores da revolução são medonhos, decerto que tudo o que é vital nas sociedades, a família, o trabalho, a educação, sofrem dolorosamente com a passagem dessa trovoada humana. Mas as misérias que se sofrem com as opressões, com os maus regímens, com as tiranias, são maiores ainda. As mulheres assassinadas no estado de prenhez e esmagadas com pedras, quando foi da revolução de 93, é uma coisa horrível; mas as mulheres, as crianças, os velhos morrendo de frio e de fome, aos milhares nas ruas, nos Invernos de 80 a 86, por culpa do Estado, e dos tributos e das finanças perdidas, e da fome e da morte da agricultura, é pior ainda. As desgraças das revoluções são dolorosas fatalidades, as desgraças dos maus governos são dolorosas infâmias.
Eça de Queirós, in 'Distrito de Évora'

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

A Geografia nos Filmes e Documentários

Hoje é exigência para o trabalho do professor de Geografia, em particular, diante da concorrência do vídeo, do cinema, da televisão, a diversificação do formato de suas aulas. Não cabem mais aulas "descritivas" e decorebas. O trabalho com filmes, documentários, poesias, charges, dentre outros recursos visuais, possibilita uma grande diversificação e enriquecimento das aulas, facilitando, sem empobrecer conceitualmente, o trabalho do professor. Desde que esses recursos sejam escolhidos, na montagem dos planos de aula, com algum critério.

Como a Geografia é uma ciência empírica, torna-se uma exigência a escolha de recursos temáticos, adequados à faixa etária, e que tragam novas formas de conhecer, pensar e compreender o mundo contemporâneo.

Dois exemplos de filmes e documentários que costumam encantar bastante os alunos, de todas as idades, pela riqueza e qualidade na construção das cenas e roteiros são BARAKA e O POVO BRASILEIRO, este último baseado na obra homônima do antropópogo Darcy Rybeiro.




Baraka é um documentário construído de uma forma fascinante: apenas com o uso de imagens e sons, sem narrativa, são mostradas diversas paisagens do mundo todo - filmado em mais de duas dezenas de países, em todos os continentes do Planeta, ele expressa a interligação entre povos, culturas que, em suas diferenças, possuem diversos pontos de convergência. Bastante poético, nos leva a pensar sobre muitos dos significados da vida humana sobre a Terra.

Já o belíssimo documentário "O Povo Brasileiro", feito a partir da obra revolucionária daquele que considero um dos maiores intelectuais brasileiros - o professor Darcy Ribeiro - mostra com enorme competência a complexidade presente na formação histórica do povo que habita o nosso país. Ficam aqui as dicas...

Futuramente, retornarei a este post para acrescentar uma lista de filmes que podem ser utilizados com grande sucesso nas aulas de Geografia.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Piauí

Hoje voltei de minha 11ª viagem ao Piauí. Desde quando fui pela primeira vez ao estado, a trabalho, já percebera o quanto somos ignorantes, nós aqui do Sudeste, em relação à toda dimensão de coisas que existem no Nordeste.

Voltando ao Piauí: já na minha segunda viagem (sempre a trabalho), fui visitar Pedro II - a "Terra da Opala" - município onde, segundo diz a lenda, já foram extraídas mais de 55 toneladas dessa pedra semi-preciosa, que pode custar mais caro do que um diamante. Para quem não conhece uma Opala, e ela já transformada em jóia, seguem algumas fotos para dar uma ideia de sua beleza:



A cidade de Pedro II é bem bonitinha, e a noite, no sertão, é muito linda - a noite sertaneja é uma das mais lindas que já vi! Sei lá, é difícil descrever: mas é daquelas noites que fazem a gente pensar muito, que nossa visão fica cristalina, e nossa mente viaja longe!

Vou colocar aqui algumas fotos para vocês poderem sentir, pelas imagens, um pouco da atmosfera de lá:










Me impressionei bastante com a grande quantidade de motos que lá existem, e do modo como elas são ocupadas: vi motos com duas, três, quatro pessoas em todas as combinações de gênero possíveis sobre elas! Diz um amigo meu de Pernambuco que as motos já são a consequência da terceira modernização dos sistemas populares de transporte do Nordeste - primeiro havia os jegues; depois, as bicicletas e, por fim, essas coisinhas sedutoras de duas rodas, que tem conquistado a população de cidades inteiras daquela região.

Logo mais, voltarei a escrever sobre o Piauí, uma terra apaixonante e de muitos encantos!

Geografias do Nordeste

Os livros didáticos têm pecado, excessivamente, ao tratar da Geografia Nordestina. Quase nunca, salvo raríssimas exceções, a abordagem escolar vai além daquela clássica situação de divisão daquela região através dos recortes tradicionais (Zona da Mata, Meio Norte, Agreste e Sertão), com uma pesada descrição de suas características naturais principalmente. Essa geografia então se torna enfadonha, chata, inútil. Pura decoreba.

O Nordeste já foi o coração econômico do Brasil e, ainda hoje, é uma região extremamente dinâmica, cheia de grandes contrastes, riquezas, culturas e tradições. É disso que devemos tratar para sermos mais fiéis à sua formação geográfica.

Uma proposta é que passemos a tratar o Nordeste a partir da ideia de um território em constante movimento: as migrações, a dinâmica interna, os eventos modernizadores são exemplos de expressões que decorrem de processos que merecem ser mais bem compreendidos pelos professores, pesquisadores, estudantes, e pela população brasileira em geral.


Há vetores interessantes de modernização que têm transformado a primeira natureza nordestina em um novo meio geográfico repleto de possibilidades: a agricultura de exportação; a piscicultura, o mercado regional mais aquecido do que o de outras regiões brasileiras. É impressionante a altíssima qualidade das frutas produzidas no Rio Grande do Norte, no Piauí ou no Vale do Rio São Francisco, para citar apenas alguns poucos exemplos.

Quem (re)conhece que o Rio Grande do Norte é exportador de pedras preciosas, ou produtor de petróleo? Que o Piauí concentra grandes parques estaduais e nacionais com patrimônio histórico e arqueológico de inestimável valor? Que com investimentos japoneses os potiguares tem cultivado pomares de altíssima qualidade nos solos arenosos nos arredores de Natal? Que questões ligadas a litígios territoriais deixaram profundas cicatrizes no mapa do Brasil (Piauí x Ceará, por exemplo)?

Há também outras questões como aquelas  ligadas à uma Geografia Política do Nordeste, como a proposta de criação de novos estados brasileiros como o Maranhão do Sul e Gurguéia (região sul do Piauí), decorrentes das profundas dinâmicas territoriais, produto dos conflitos entre as oligarquias tradicionais e as novas forças políticas ligadas à expansão das fronteiras agrícolas, que poderiam ser mais bem exploradas nos livros.

Logo mais voltaremos ao tema, com maior detalhamento da Geografia de alguns dos estados nordestinos.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Natureza, Paisagens, Espaço e Geografia

Ultimamente, têm se tornado bem comum ouvirmos comentários como "a geografia favoreceu ou dificultou" tal fato, coisa, processo. Geralmente, a referência à geografia é bastante incompleta, quando não, errônea. Geografia significa muito mais do que natureza, ou os aspectos físicos do Planeta. Ela é o híbrido da natureza, das construções e das ações humanas. Tudo isso junto, como resultado da ocupação humana de porções da Terra.

O espaço geográfico é isso: a somatória dos conjuntos de sistemas naturais e artificiais, mais a vida que lhes anima. Ele - o espaço - possui então dimensões como a economia, a política, a cultura. Expressões do gênio humano que se expressam através das paisagens - nesse caso, as paisagens que são produtos da técnica, do engenho, do trabalho humano. É assim que, há mais de 10 mil anos, os homens têm modificado a superfície da terra, e constituído uma outra natureza. Voltaremos a este tema no futuro próximo.

Para quem gosta de fotografia, é possível pensar sobre o significado do espaço geográfico utilizando-se deste fabuloso recurso técnico que é a captura do tempo, do instante, pela direção da mente e do olhar humanos....vejam que belo exemplo temos aqui:   http://br.olhares.com/. Boa viagem geográfica por este mundo das imagens a todos...

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Espaço Geográfico


A palavra espaço, de usos intensos e múltiplos, confunde mas, também, encanta. Espaço sideral; espaço arquitetônico; espaço como palco e, também, o espaço geográfico - aquele ao qual iremos nos dedicar a conhecer e desvendar. O espaço geográfico, sinônimo de território usado, é o espaço de todos os homens, firmas e instituições. Também podemos, por isso, chama-lo de espaço banal.

Este blog será uma viagem por esses múltiplos significados da palavra espaço, em diferentes acepções, mas, principalmente, naquelas que dizem respeito a diversos de seus compartimentos - a paisagem, o território usado, a região, o lugar, os limites e as fronteiras.



Começamos agora esta viagem que, espera-se, traga conhecimento, mas também encantamento. Traga ideias, mas também prazeres. Traga silêncio, mas também debates. Enfim, que traga inúmeras possibilidades de se pensar a vida, em sua base material, e em seu campo de ações - que possibilite discutir a importância do conhecimento do espaço geográfico para a vida no mundo contemporâneo. Fica aqui o convite aos interessados e pensadores para, juntos, participarem deste blog. Sejam bem vindos!