domingo, 10 de abril de 2011

Sistemas de Movimento do Território Brasileiro

A realização da Copa do Mundo e das Olimpíadas no Brasil, eventos esportivos de grande monta, e que colocaram o país sob os holofotes internacionais, têm provocado muitas dúvidas acerca de nossa infra-estrutura - se irá comportar o aumento da demanda nos aeroportos,  dentre outras formas de transporte como o intraurbano,  e se conseguirá suportar o maior fluxo que muito em breve deverá ocorrer.

 

Faltando somente três anos para a realização da Copa e cinco para as Olimpíadas do Rio de Janeiro (2014 e 2016, respectivamente), é cada vez maior o número de pessoas que viajam de avião, com crescimento exponencial nos últimos anos.

O total de pessoas transportadas pelas cias aéras atingiu 66 milhões de passageiros em 2010 – tendo aumentado 115% em oito anos, superando o número de pessoas transportadas por ônibus. Como fatores desse aumento, encontram-se algumas das conquistas da última década: a melhoria da renda de milhões de brasileiros – a emergência da chamada nova classe média (estimada em cerca de 100 milhões de brasileiros!), e uma melhor correlação entre o custo da viagem de ônibus em comparação com a de avião.

Apenas para exemplificar: uma viagem entre São Paulo e fortaleza, trajeto feito em cerca de 4 horas de avião (3 horas e meia hora de voo mais meia hora para embarque), pode levar até 50 horas de ônibus. Uma passagem aérea pode sair até por 348 reais (cotação feita pela TAM, trecho Cumbica-Fortaleza-Cumbica para ida em 17/maio e retorno dia 21), se adquirida antecipadamente, ao passo que o bilhete do ônibus não sai por menos de 658 reais ida e volta (cotação feita pela Viação Itapemirim com partida em 18/maio e chegada em Fortaleza em 20/maio).

 
O transporte por avião - relevante conquista da humanidade para transposição de grandes distâncias, é imprescindível para o Brasil, por conta de suas dimensões continentais o uso de aviões para garantir a rápida mobilidade de sua população é fundamental. Entretanto, há muito para ser melhorado, em relação às características atuais do modal aeroviário.

Há, praticamente, um oligopóplio no uso do espaço aéreo brasileiro por apenas duas companhias – TAM e Gol. A chegada da Azul, ainda bastante tímida, mas com participação crescente, ainda não alterou o quadro desse domínio do transporte aéreo por apenas duas empresas. Há ainda grande lacuna que deve ser coberta pela aviação regional, que poderia promover maior integração entre lugares com distâncias intermediárias.





Na situação atual, temos exemplos absurdos – por exemplo de Teresina para São Luís, utilizando-se a TAM, os voos obrigatoriamente dirigem-se primeiro a Brasília, um tipo de capital das conexões aeroviárias do Brasil, por conta de sua posição geográfica privilegiada. Nesse caso não se privilegia a menor distância sobrevoada ou o menor tempo de deslocamento, mas a lógica econômica de concentração dos passageiros em poucas rotas e, consequentemente, a maximização dos lucros.
 
No entanto, mesmo com a entrada de novas companhias áereas, tudo indica que nos aproximamos dos limites da ampliação do transporte aéreo, principalmente, por duas condições principais:
  1.  O esgotamento da atual capacidade aeroportuária brasileira em todas as capitais das unidades federadas;
  2. Os custos crescentes das cias aéreas para manutenção de grandes frotas (combustível, manutenção).
Essas condições conjunturais têm criado as condições para projetos de transporte de passageiros sobre trilhos. Com décadas de atraso em relação a outros países continentais do mundo (como os EUA, a Rússia e a China, por exemplo) o transporte ferroviário parece ser a opção mais viável para atender a mobilidade de massas cada vez maiores de brasileiros, com custo e tempo de deslocamento intermediário entre o avião e o ônibus.

Desde as privatizações dos anos 1990 que enterraram de vez a estrutura ferroviária brasileira de transporte de passageiros, já moribunda há muito tempo pela falta de investimento e modernização tecnológica, fato lamentável e produto de uma opção política, sem visão de futuro, na época, pela opção rodoviarista, tem sido necessária a discussão pela opção ferroviarista.

Com diversas opções de transporte de passageiros sobre trilhos (metrôs, Veículos Leves sobre Trilhos-VLTs e trens de alta velocidade, os famosos trens-bala) em tecnologias que avançaram acompanhando as transformações do período contemporâneo, a opção por este modal de transporte traria várias vantagens para o Brasil.
 
Além de um substituto intermediário para o transporte aeroviário, já próximo do esgotamento, para conexões de médias e longas distâncias, o modal ferroviário seria também uma excelente opção para as grandes cidades e capitais brasileiras.

As metrópoles brasileiras agonizam, cotidianamente, afogadas por milhões de automóveis, tornando-se cada vez mais lentas.  Diversos especialistas defendem a urgente e necessária ampliação do metrô e a implantação de outras modalidades sobre trilhos já utilizadas há décadas na Europa e Japão como os VLTs.



A necessária decisão política é fundamental para a implementação do modal ferroviário no território brasileiro de forma mais significativa. Para que ela aconteça, será necessário transpor alguns obstáculos. O primeiro será superar os lobbies das construtoras e  indústria automobilística. O segundo, não menos importante, a alocação dos recursos financeiros necessários para garantir a implementação técnica, sem descuidar de outras áreas prioritárias para a população brasileira (saúde e educação, por exemplo). O atendimento das demandas por transporte, presentes e futuras, dependerão de um  amplo debate e da elaboração de um projeto que responda às necessidades do território brasileiro.

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